quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Rede PAIciência - Texto em resposta ao vídeo "Os novos pais – a nova família”


Texto enviado por Willams: pai do João, analista judiciário do Supremo Tribunal Federal,  32 anos e morador de Brasília - DF.


Olá Paulo, tenho um filho (o João) com quase dois meses e conheci seu blog por indicação da minha esposa (ela adora blogs). Na verdade, demorei a acessá-lo, porque tenho um pouco de resistência com sites e matérias que, de certa forma, estão "endeusando" o comportamento dos pais que passaram a interagir, compreender e participar dos cuidados com o próprio filho.

Lendo alguns posts do seu blog, acredito que você não é muito desse tipo, mas daqueles que, de maneira muito clara e direta, incentivam e demonstram o quanto é bom ser um pai participativo, ou melhor, um pai de verdade (Não que o meu pai não tenha sido um pai de verdade, mas os tempos eram outros).

É que me incomoda o excesso de agradecimentos e elogios para o pai que (diferentemente dos de antigamente, que se preocupavam apenas com o sustento da família) dá banho, troca fralda, troca e escolhe a roupa, dá comida, acalenta o choro, divide as angústias com a mãe, enfim, participa diretamente da criação do filho e dos cuidados que cercam essa incrível experiência.

Tudo bem que essa mudança de comportamento e de atitude é bastante louvável, mas fica parecendo que esse tipo de ser humano exerce algo extremamente extraordinário e diverso da própria natureza e do conceito de pai.

Pior do que isso, em certas situações em que se exalta essa figura do tal “novo pai” (ou do “pai moderno”), parece que passamos a realizar ações que são e sempre serão naturalmente (e não culturalmente) da mãe. Ou seja, tem-se a ideia que passamos apenas a ajudar a mãe naquilo que é (e sempre será) obrigação dela desde que o mundo é mundo, quando, em verdade, passamos apenas a reconhecer e exercer uma tarefa que também é nossa: a de criar os filhos.

Pra mim, de fato, esse comportamento deve ser reconhecido, até pare que seja encorajado e permita que outros pais vejam o quanto é bom ser pai e ter um contato de verdade com o filho. Mas que seja um reconhecimento consciente de que não estamos fazendo algo fora do comum, mas apenas o que sempre deveríamos ter feito.

Nesse contexto, ao ver o vídeo “Os novos pais – a nova família” (postado no site), dois detalhes me incomodaram bastante (embora, no geral, o vídeo traga uma mensagem bem bacana):

Primeiro, o de querer jogar a culpa da ausência dos pais para as mães que criticam as tentativas do marido ao cuidar dos filhos. Na boa, se não aguenta, pede leite (já que não dá mais para pedir para sair). Quando faço alguma coisa que minha esposa critica, a gente senta e conversa. Às vezes a discussão não é tão tranquila, mas faz parte da construção de um relacionamento maduro e cercado de cumplicidade e carinho. Pra mim, isso é desculpa de quem já não tinha muita vontade de se envolver.

O filho é dos dois e a responsabilidade deve ser naturalmente compartilhada. Até porque, quando vejo algo que não acho correto, também converso com minha esposa e nem por isso ela se sentiu desencorajada a cuidar do nosso filho.

Segundo, a parte final que, após vários depoimentos criticando o rótulo e o modelo “antigo” de paternidade, passa a defender um novo rótulo que também detesto: a do pai irresponsável e divertido, versus a figura da mãe chata e responsável. Isso, já devia ter ficado pra trás, juntamente com a do pai exclusivamente provedor.

Mais uma vez, cabe tanto ao pai quanto à mãe, na mesma medida, a seriedade e a maturidade na educação dos filhos, bem com a busca de momentos prazerosos e mais descontraídos, ainda que cada um tenha jeito próprio de fazer isso.

Aliás, não sou nenhuma autoridade no assunto, mas acredito que essa identificação do pai quase que como um palhaço e da mãe praticamente como uma megera, que se traduz em uma diversidade de tratamento e até de opiniões, possibilita o enfraquecimento da autoridade dos pais.

A criança passa a jogar com essas características da mesma forma que o filho de pais separados, quando um faz todas as vontades e outro impõe limites exagerados, escolhe aquilo que vai ouvir ou dividir com cada um. No final, a criança desacredita a opinião do pai para assuntos mais sérios e evita conversar com a mãe assuntos mais espinhosos, já que nem eles chegam ao um acordo do que pode ou não pode. Ou seja, ela passa a procurar fora o que não encontra em casa: um porto seguro.

Mas, enfim, isso tudo, é só uma opinião de um pai busca fazer o melhor para o filho e para a sua família e que, embora ache difícil ser o melhor pai do mundo, tem a certeza de que é perfeitamente possível ser o melhor pai que o filho pode ter.

Paulo, parabéns pelo site. To adorando as dicas e partilhas.

Abraço e que Deus abençoe sua família e a de todos os leitores,

Willams do Nascimento Costa.

 
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