segunda-feira, 29 de agosto de 2011

No olho do furacão (5)

Na segunda semana, estávamos mais confiantes e tranquilos em relação aos cuidados com o bebê. O "furacão" parecia ter diminuído sua intensidade de 5 para 2. Minha mãe, que mora em outra cidade, voltou para a casa dela. Minha sogra, que trabalha, continuou a ajudar no que podia. Decidimos, então, contratar uma diarista para realizar as tarefas domésticas.

Se alguém lhe oferecer ajuda, aceite. O segredo é não se tornar totalmente dependente. Para isso, planeje-se. Ao seu tempo, você e sua mulher retomarão suas vidas. Procurem viver um dia de cada vez. Tendo condições de contratar uma enfermeira ou babá para este primeiro período, minha sugestão é CONTRATE (especialmente se não puder contar com o apoio dos familiares e não se importar com a presença de pessoas estranhas em sua casa). Para muitos, esse início pode ser de difícil adaptação, mas tenha sempre em mente que é complicado, mas não é eterno. Isso me serviu como um mantra.

Durante esta semana, continuei a trabalhar e à noite cumpria minhas tarefas diárias como pai. Porém, na sexta-feira, entrei de férias! A partir de agora, eu poderia contribuir mais em casa e curtir a minha família.
Já no meu primeiro dia de férias, nada de descanso. O Antônio Bento precisava visitar o pediatra.

É recomendável que os bebês visitem o pediatra quinze dias depois do nascimento para realizarem a pesagem, serem examinados e terem seus exames (pezinho e orelhinha) lidos pelo médico.

Naquele mesmo dia, minha mulher tiraria os pontos da cirurgia no consultório da obstetra. Nossa agenda estava lotada.
Optamos por não continuar com a mesma pediatra que participou do parto do Antônio Bento. Nada relacionado à profissional, mas sim à distância. O consultório dela era em um bairro distante da nossa casa, o que nos fez procurar outro especialista.

Esta era a primeira vez que o Antônio Bento sairia de casa por muito tempo. Procuramos colocar tudo que ele precisaria dentro da bolsa e partimos para esta "dupla jornada".

-Paulo, tô tensa.
-Magina Ju, ele está ótimo e sua cicatrização foi excelente. Vai dar tudo certo.
-Paulo, tô falando desse elevador. Você viu quantos consultórios tem nesse prédio?! Nesse momento devem ter oito pessoas doentes subindo conosco e uma comunidade de fungos e bactérias no ar. Socorro!

Até pensei em tapar o nariz do meu filho ou apertar o botão de emergência, mas mantive a calma e falei para ela se controlar também.

Durante a consulta, após um bom tempo na sala de espera (acostume-se com isso), descobrimos que ele não estava no peso "ideal".

Quando o bebê nasce, ele perde alguns gramas antes de deixar a maternidade, o que pode chegar a 10% do peso do nascimento. Depois que começa a se alimentar, o bebê "deve" recuperar o que perdeu em até 15 dias. Caso isso não ocorra, o médico lhe dirá o que fazer.

Um dos motivos pelos quais o Antônio Bento poderia não ter recuperado seu peso de nascimento foi o fato de termos deixado que ele dormisse durante toda a madrugada. Achávamos uma benção o meninão dormir às 0h e acordar por volta das 5h ou 6h. Ledo engano. Mesmo passados os dez primeiros dias, por ordem médica a partir de agora teríamos que acordá-lo de 3 em 3 horas para mamar incluindo a madrugada.

Saímos meio decepcionados do consultório, mas estávamos confiantes que o novo "plano de amamentação" daria certo. Dali, partimos para o consultório da obstetra, que retirou os pontos e deu nota 10 para a minha mulher. Agora ela estava livre do curativo e nós tínhamos enfrentado com êxito essa grande jornada!

Era hora de aproveitar minhas férias ao lado da minha família. Nossa vida começava a voltar ao normal. Estávamos mais fortes, mais confiantes, criando nossas identidades de pais.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

No olho do furacão (4) - Palavra do Especialista - Chupeta

Ainda na primeira semana em casa, percebemos que os choros do Antônio Bento começaram a ficar mais recorrentes. O simples ato de trocar a fralda mais parecida um ritual de tortura medieval. Na hora de dormir, ele demorava a pegar no sono e parecia irritado com alguma coisa. Mas o quê? A fralda estava limpa, ele estava quentinho, confortável, de barriga cheia...

-Paulo, pode falar aí no trabalho?
-Posso. Tudo bem?
-Tudo ótimo! Dei a chupeta! Ele está quietinho!
-Quer dizer que nossos problemas acabaram!?
-Paulo, é só uma chupeta.

Ao mesmo tempo que estávamos felizes em saber que a necessidade de sucção suprida cessava o choro do nosso filho e o alcalmava, ficamos preocupados em relação à chupeta. Podíamos mesmo dá-la ao nosso filho? E a arcada dentária dele? E a respiração? E se ele largasse o peito?

Antônio Bento e sua inseparável chupeta

Várias dúvidas surgiram. Antes de darmos o polêmico "bico plástico" a ele, lemos muitos artigos de especialistas que defendem o uso chupeta, mas com algumas restrições. Mas que restrições são essas?

Neste post, inauguro a "Palavra do Especialista", uma seção na qual publicarei artigos (escritos especialmente para o PAIciência) de especialistas colaboradores. E para começar, dou a palavra à Drª Camila Guimarães:

Odontologia Infantil - Posso dar Chupeta para o meu filho, Doutor?

Sinto-me honrada por poder representar a odontologia nesse cantinho tão especial. Venho acompanhando o PAIciência e me senti motivada a escrever algumas orientações para os papais e mamães sobre Saúde Bucal Infantil. Um assunto importantíssimo para o bem estar da criança e, com certeza, para a tranquilidade dos pais.

Preservar a saúde de um filho é obrigação de todo responsável e eu espero saciar todas as dúvidas referentes á odontologia infantil.

Primeiramente, quero me apresentar. Me chamo Camila Guimarães, sou dentista formada na UNIFEB, em Barretos e estou "Periodontistando" na UNESP - Araraquara. Tenho uma relação especial com os meus pacientes infantis, costumo dizer que meu consultório fica iluminado após o atendimento desses baixinhos.

Também sou responsável por um blog voltado ao público odontológico chamado "Sofá do Dentista" e a Enciclopédia Odontológica, a "OdontoPédia". Meu maior prazer é poder levar informações aos meus leitores, o conhecimento é uma das maiores virtudes do homem, e no que eu puder contribuir para a compreensão da Odontologia, farei.

A pedido do papai Paulo, hoje falarei sobre a chupeta. Um assunto um tanto polêmico na nossa área, e que só conseguimos diagnóstico e tratamento com a ajuda de vocês, papais e mamães.

O "Dar ou não dar chupeta ao meu filho?" é uma das perguntas mais ouvidas pelo dentista dos pequeninos. E a minha resposta é: "talvez". Posso explicar. Todo bebê, ao nascer, necessita praticar a sucção, ou seja, os movimentos realizados pelas estruturas orais da criança, compreendendo língua, lábios, mucosa, músculos e ossos presentes na cavidade oral, precisam ser exercitados para o desenvolvimento saudável e harmonioso da face.

O correto seria que a criança se satisfizesse no peito da mãe. Além de receber o leite materno, que é o melhor alimento para o bebê, seu filho encontrará no bico do seio a estrutura ideal para a prática da sucção. Ele estaria se alimentando e saciando sua vontade de sugar.

Porém, isso raramente acontece; na maioria das vezes, o pequeno mata a sua fome, mas não a necessidade de sugar. Para se satisfazer, a criança acaba levando a mão a boca, e chupa o dedo. 

Chupar dedo está errado, é prejudicial ao desenvolvimento facial e está em constante contato com bactérias. O correto, nessa situação, é a troca do dedo pela chupeta. Mas daí vocês me perguntam: "Então a chupeta não é prejudicial ao desenvolvimento das estruturas da face?".  Posso explicar isso também.

Não, se ela for usada com moderação e retirada na época certa. Crianças com chupetas sempre a mão vão usá-las a toda hora, em todo lugar, fazendo disso um hábito nocivo. Consequentemente, os danos serão maiores e a retirada da chupeta, mais dificultosa. 

A chupeta indicada para o seu filho é a compatível ao tamanho dele. Chupetas grandes para boquinha pequena não é o ideal, tenham bom senso quanto a isso. Eu recomendo a retirada da chupeta aos 2 anos de idade.

Faça um acompanhamento periódico com o odontopediatra, leve seu filhote ás consultas e tire todas as suas dúvidas com o dentista. Como eu disse no começo do texto, mantenha-se informado, a saúde bucal da sua criança começa em casa. 

A minha dica de hoje é dar uma espiada no blog do meu amigo Tio Dentista. O Blog do Tio é um guia completo para papais e mamães. Tenho certeza que vocês vão adorar.

http://tiodentista.com.br/

http://www.sofadodentista.com.br/

http://www.odontopedia.info/ 

Até a próxima!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

No olho do furacão (3) - Primeira Semana em Casa

Cadeirinha instalada no carro, era hora de ir para casa. Fui dirigindo devagar e desviando das crateras típicas das ruas cariocas.

-Paulo, pelo amor de deus, eu estou de cinta, mas ela não faz milagres, vai devagar!
 
Ainda cansados, não demorou muito para percebermos que não tínhamos mais a estrutura da maternidade à nossa disposição. Uma nova vida começava. Colocaríamos em prática tudo aquilo que planejamos durante os nove meses de gestação. Minha mãe e minha sogra foram responsáveis por nos apoiar nesta primeira semana. Se estava difícil na maternidade, em casa as coisas pareciam ter piorado. 

A angústia da amamentação continuou. Ele não pegava no peito facilmente e dormia durante horas seguidas, nos obrigando a fazer o cansativo "ritual do despertar". O desconforto no peito ao amamentar não melhorou. Minha mulher chutava o chão de dor a cada sugada... Não era uma cena agradável de se assistir. Eu suava só de olhar.

Tentamos criar uma rotina e dividimos as funções. Aos poucos, percebemos que tudo ia se encaixando, desde a reposição do algodão, à roupa lavada.  O cansaço ainda era o nosso pior inimigo.  Às vezes, éramos surpreendidos por um forte sentimento de "e agora?", mas que logo sumiam após uma crise de choro ou riso.A cada soneca tirada, recarregávamos nossas energias.

Organizem-se. Criem uma lista e pendure-a em local visível para que vocês não se percam em seus afazeres. A lista não lhes deixará esquecerem de nada neste momento cansativo. Tente descansar toda vez que o bebê dormir. Nós pais também precisamos nos organizar - fique atento às compras de supermercado, contas do mês e aos ítens da farmácia.

Na divisão das tarefas, fiquei responsável por dar banho no Antônio Bento! Com a banheira cheia de água morna (capaz de deixá-lo com o corpo inteiro submerso), mergulhei meu filho num ritual de cantoria, limpeza e massagem. Deu certo. Ele ficou quietinho e curtiu bastante. Entre os meus afazeres estavam ainda trocar a fralda, cuidar do umbigo, dar colo e colocar para arrotar.


Gostoso, pra chuchu, chuá, chuá!

No terceiro dia em casa, fomos até ao posto de saúde mais próximo para vaciná-lo. Ele tomou a BCG (Bacillus Calmette-Guérin), uma vacina contra a tuberculose, que deve ser dada logo nos primeiros dias de vida. Subcutânea, a injeção não dói tanto. Nosso filho se comportou feito um rapaz.

No dia seguinte, era a vez do teste do pezinho e da orelhinha. Preferimos o serviço médico em domicílio, mesmo tendo que pagar mais caro. A experiência de tirar uma recém nascido de casa no dia anterior nos mostrou o trabalho que dá. Mais uma vez ele se comportou nos dois testes.

O Teste do Pezinho é um exame simples, que pode detectar precocemente doenças metabólicas, genéticas e ou infeciosas. Teste da Orelhinha, ou Triagem Auditiva Neonatal, consiste na colocação de um fone acoplado a um computador na orelha do bebê que emite sons de fraca intensidade e recolhe as respostas que a orelha interna do bebê produz. Ambos devem ser realizados nos primeiros dias de vida.

Após os cinco dias corridos de licença-paternidade, voltei ao trabalho. Não foi nada fácil. Ainda lesado e com sono, tive que cumprir com as minhas responsabilidades "trabalhísticas".

Minha mãe ajudou no "plantão noturno", então, pude descansar durante a noite com o auxílio de um protetor auricular (recomendo muito). Todas as vezes que ele chorava para mamar, eu ia dar uma espiada e recebia um "Paulo, vai dormir!".

Durante o dia, minha sogra cuidava das roupas, ajudava na limpeza da casa e minha mãe cozinhava. Não há palavras para agradecê-las. Foram dias mal dormidos, muitos afazeres, mas em nenhum momento nos sentimos sós. Fomos supridos pelo amor de mãe dessas duas maravilhosas mulheres.


Mães e avós, nossas heroínas

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

No olho do furacão (2)

A recuperação da minha mulher dependeu muito da sua força de vontade. Naquela mesma noite, ela levantou da cama pela primeira vez enfrentando dores colossais. Mais tarde, a sonda e o soro foram retirados. Coragem e determinação foram palavras chave diante daquela situação toda.

Ela não se deixou abater pela estafa. Cumprindo orientações médicas, entre uma mamada e outra, caminhamos juntos até o elevador da maternidade. Como uma verdadeira guerreira, ela fez o que tinha que fazer.

Caminhar pelos corredores da maternidade ajudam no funcionamento do intestino e eliminação dos gases.  Aos poucos, as mães vão ganhando coragem e firmeza ao andar. É preciso dar muito carinho à sua mulher neste momento e entender que o choro é uma válvula de escape para tantas mudanças . Tente não entrar em pânico e não a julgue. Seja forte também.

Após mais uma noite em claro, no dia seguinte, as dores continuaram e o trabalho maçante com a amamentação também. Até que naquela manhã:

-Boa tarde mamãe e papai, eu sou a enfermeira responsável pelo primeiro banho do Antônio Bento! Fiquem atentos ao que vou dizer e fazer. Assim, vocês aprenderão tudinho.

Carregando uma banheira no formato de uma barca, a enfermeira despiu nosso filho segurando-o como se fosse uma batata doce e iniciou o "processo de tortura".

-Mamãe e papai, o Antônio Bento vai chorar e ficar vermelho durante o banho, mas isso é normal...

De forma automática, ela foi dando o banho e narrando uma espécie de passo-a-passo ao som estridente do choro dele. Aquilo não podia ser normal. A "barca dos horrores" estava me tirando do sério. Ao final daquele ritual escabroso, estávamos todos surdos e chocados com a situação surreal que presenciamos. Eu já pensava em ligar para um psicólogo infantil...

Durante o dia, recebemos amigos e familiares. Ganhamos presentes e muito carinho. Ainda abatida pelas noites mal dormidas, Juliana socializou, distraindo um pouco a mente.

Na segunda noite, por ordem médica, o Antônio Bento dormiu no berçário. Preocupada com a recuperação da Juliana, que ainda estava internada e recebendo medicação venosa, a obstetra orientou que ela não se preocupasse em amamentá-lo durante a madrugada.

Mesmo com o receio dele ser alimentado com suplemento e perder a vontade de mamar no peito, entregamos nosso príncipe para as enfermeiras do berçário. Não tínhamos outra opção. Estávamos no nosso limite. Precisávamos descansar. Minha sogra se ofereceu para dormir com a minha mulher naquela noite, me dando folga para dormir em casa. Eu aceitei, claro.

Estratégias como esta podem ajudar e muito. Não negue ajuda neste momento. Qualquer auxílio será bem vindo, seja ele qual for. Descansar faz toda a diferença.

Dormir  foi um santo remédio para lidarmos com o estresse inicial. Após um sono reparador, estávamos mais seguros e "prontos para outra". A percepção da realidade voltou, o nosso bom senso também. Antes, estávamos cegos em fazer o melhor para ele, sem pensar nas consequências físicas e mentais que aquilo poderia gerar em nós. Começamos a priorizar para evitar um desgaste desnecessário.

Querer fazer o melhor para o seu filho e se preocupar com ele é normal. Tente não exagerar. Ninguém é um super homem ou uma super mulher. Faça o que você conseguir. Não tente ultrapassar seus limites. Lembre-se que agora o seu filho precisa de você. Preserve-se.

Após a alta da obstetra e da pediatra, era hora de ir para casa.

Antônio Bento indo para casa

Uma nova fase se iniciava em nossas vidas.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

No olho do furacão (1)

Após duas horas na incubadora, nosso príncipe foi para o quarto. Cansada da cirurgia, ainda com alguns sintomas desagradáveis da anestesia, recebendo soro na veia e com uma sonda urinária, minha mulher teve de começar a saga da amamentação. Não sabíamos, mas tínhamos acabado de entrar numa fase  complicada, que batizei de "olho do furacão".

Bebês recém nascidos dormem bastante para encomizarem energia. Porém, é necessário amamentá-los de 3 em 3 horas para que se sustentem e engordem.  Fora da barriga, a única fonte de alimentação do bebê é o leite materno.

Sem saber de fato como mamar, Antônio Bento foi pegando timidamente o bico do peito, mas, após algumas suaves sugadas, dormia profundamente. As enfermeiras do berçário ensinaram a "pega" correta e também como acordar o bebê para mamar.

Não foi nada fácil. Aos poucos, na tentativa de acordá-lo, retirávamos a roupa inteira do nosso filho, até que ele ficasse apenas de fralda. Esse processo (histérico) levava, em média, uma hora e meia.

Entre um acesso de choro e outro, ele sugava o colostro e estimulava os peitos a darem leite. Quando conseguia sugar por mais de um minuto ininterrupto, era quase como um gol da seleção brasileira aos 45 minutos do segundo tempo. Um verdadeiro alívio para todos. Porém, devido à sucção, os peitos da minha mulher começaram a ficar sensíveis e doloridos.

Já no primeiro dia de vida, ficamos muito preocupados com a alimentação dele. Tínhamos dúvida se o colostro estava saindo na quantidade suficiente para sustentá-lo. Por mais que as enfermeiras dissessem que a quantidade era pequena mesmo, nós não acreditávamos totalmente.

O colostro é rico em substâncias necessárias para o bebê recém nascido. Ele o protege por conter imunoglobulinas e leucócitos, responsáveis pela imunização. Mesmo em pequena quantidade, ele supre à necessidade diária de carboidratos, água e proteínas do bebê.

As dores da cirurgia começaram a aparecer após o término da anestesia. Estávamos cansados e sem dormir. A primeira atitude que tomamos foi suspender as visitas. Era hora de focar na recuperação da minha mulher.

Não hesitem em interromper ou até mesmo optar por não receber visitas na maternidade. Tudo vai  depender de como a mãe e filho estarão no pós parto. É um momento delicado e estressante. Não se preocupe com as pessoas agora, mas sim com o bem estar da sua nova família. O pai pode ser o responsável por negar as visitas de forma elegante. Você pode delegar isso a um amigo  ou familiar também. Os celulares podem ficar com alguém da sua confiança.

Durante aquele dia, tudo o que aprendemos nos cursos começou a nos ajudar. Algumas dicas foram essenciais. Eu, por exemplo, fiz tudo que estava ao meu alcance. Troquei fraldas, roupas e cuidei do umbigo como um verdadeiro profissional.

Após a chegada do atestado de "nascido vivo", desci até o subsolo da maternidade e registrei nosso filho no cartório local.

-Qual será o nome do seu filho?
-Antônio Bento Mattoni Pimenta
-Nossa, você nem esqueceu!
-Esquecer, não entendi, desculpa, tô meio lento.
-Por isso mesmo. Já vi pais ligando daqui para a mulher porque esqueceu o nome do filho... Vendo a sua cara de cansado, achei que você ia ser um desses...

Perdidos no "olho do furacão", fomos tomados por pensamentos de medo como os clássicos "será que ele está respirando?" ou "será que estamos fazendo certo?". Outros questionamentos também começaram a perturbar nossas cabeças já cansadas e fracas. Fomos tomados por um instindo de proteção extrema, que, de alguma forma, colaborou ainda mais para a nossa estafa física e mental.  

A noite chegou. Preferimos que ele ficasse conosco no quarto e dispensamos os cuidados do berçário. Durante toda a madrugada, tentamos amamentá-lo. Nossas energias foram se esgotando. Tivemos momentos de choro silencioso. Cheguei a pensar que não daria conta de tantas mudanças em tão pouco tempo. Era o cansaço acumulado tomando conta de nós.

O caos se instaurava.

(Continua...).

sábado, 13 de agosto de 2011

Carta de Dia dos Pais

Eu sempre soube que você seria um bom pai e esse foi um dos muitos motivos que me levaram a casar com você, afinal não sou boba nem nada. Pensava que você exerceria bem esse papel paterno por conta dos seus valores e do seu senso de responsabilidade, fora que ia somar 23 cromossomos de beleza, charme e carisma aos meus 23.

Mas tudo o que vivemos nessa intensíssima primeira semana do Antônio Bento me fez perceber que você é muito mais do que apenas um bom pai. Você é um pai vocacionado, que nasceu pra isso. Porque a relação entre mãe e filho é muito orgânica, visceral. A relação entre um pai e um filho é muito mais construída, e é nisso que mora a beleza dela. Você começou a construir esse elo de segurança e afeto desde que AB estava na barriga.

E o  mais legal é como você entende que ser um bom pai e um marido companheiro são coisas indissociáveis. E essa sua compreensão tão madura me torna uma mulher bem sortuda e te torna um exemplo para um monte de gente. Sua dedicação e amor são tão genuínos que toda vez que eu penso nisso, eu choro.

O próprio Antônio já percebe isso e já retribui. E tenho certeza que no futuro, quando ele já for o cara bacana que eu sei que ele será, você vai  seguramente poder olhar para trás e ter a deliciosa sensação de que foi o melhor pai que ele poderia ter tido.

Feliz primeiro Dia dos Pais, meu amor!

Juliana

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Nasce um filho, nasce um pai (2)

Tentei ficar calmo e não me deixar levar por aquele ambiente hospitalar hostil. Minha mulher me pediu para contar uma piada, cantar alguma coisa no intuito de abstrair as desagradáveis reações causadas pela anestesia. "Juliana, esses sintomas vão passar assim que o bebê sair da barriga, ok?", disse o anestesista gente boa.

Não demorou muito e, após um solavanco, sentimos o corpo dela chacoalhar. Um cheiro de queimado causado pelo bisturi elétrico tomou conta da sala. "Ele tem cabelo!", disse a obstetra. Comecei a filmar na tentativa de me distanciar da realidade, enxergando tudo por trás da lente da câmera. Minha mão suava.

-Alguém tem um batom?
-Ju, isso é hora de bat...
-EU TENHO!
-Ju, a pediatra tem!
-Passa em mim gente, quero ser linda nesse momento!

Sem cordenação alguma, minha mulher borrou a boca inteira de batom dando uma leveza  quase poética aquele momento tenso. Em poucos minutos:

"Seja bem-vindo Antônio Bento", disse a obstetra com o nosso filho nas mãos.

A emoção é indescritível. Vê-lo pela primeira vez ficará registrado na minha memória para sempre. Aquele corpo roxinho, sujo e frágil se comunicou com a gente por meio de um choro leve, que logo foi ganhando força e tomando conta do ambiente. 

Meu coração disparou de alegria. Tive um acesso de choro incontrolável. "Paulo, ele parece comigo", disse  minha mulher. Eu concordei. Realmente ele tinha a cara dela com algumas "pitadas" minhas.

Quando vi, estava ao lado da pediatra acompanhando tudo de perto e já admirando meu príncipe e instintivamente vigiando-o. Após desligar a câmera, fui recuperando minha conexão com a realidade. Mais uma vez chorei e chorei.

-Paulo, prende o choro e vamos levar esse meninão para o bercário.
-Ok.

Acatei à ordem da pediatra, me despedi da minha mulher e levei nosso filho para o berçário, onde ele passaria por exames e descansaria na incubadora por duas horas. Assim que cheguei ao bercário, todos os familiares já aguardavam a nossa chegada com a cara no vidro.

A cena emocionou até as enfermeiras do berçário. Vovôs, vovós, tio e bisos do Antônio Bento se abraçavam e choravam ao ver o mais novo integrante da família. 

Era hora de comemorar.

Eu, Ju, Antônio Bento e o batom vermelho da pediatra

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Nasce um filho, nasce um pai (1)

Era véspera do parto. A noite chegou rapidamente, mas o sono não veio. Meus olhos permaneceram abertos até às cinco horas da manhã, horário marcado para despertarmos. Era chegado o grande momento das nossas vidas, com o qual já sonhávamos desde a primeira semana de namoro, há dez anos...

-Ju, a próxima vez que abrirmos esta porta, será com o nosso filho no colo.
-Vamos Paulo, não pense muito...

Caminhamos até o taxi quase que em silêncio. Chegamos à maternidade com pontualidade britânica. Nada podia sair errado. Não por nossa culpa.

Internação autorizada, a obstetra e o anestesista conversaram com a minha mulher sobre os procedimentos que seriam executados dali em diante. Estava tudo pronto para o parto. Como num mantra, todos os familiares nos diziam que "tudo daria certo".

Não hesite em perguntar tudo o que der vontade aos seus médicos antes e depois do parto, seja ele normal ou cesárea. Se informar diminui a ansiedade e o medo comum nessas horas.

O maqueiro veio buscá-la e, por procedimento, era necessário que o trajeto até o centro cirúrgico fosse feito com ela deitada na maca. Ver minha mulher estirada sendo empurrada corredor acima, não foi a melhor coisa do mundo. Segurei na mão dela e tentei dar o meu melhor, sem transparecer o meu nervosismo.

Chegando ao centro cirúrgico, o maqueiro disse "homens para um lado e mulheres para o outro". Fui encaminhado até um vestiário, onde recebi sapatilhas, touca e uma camisola.

-Paulo? É você por trás dessa máscara?
-Doutora! Posso te dar um abraço?
-Claro.
-Já andei cinco quilômetros de um lado para o outro. A Ju está bem?
-Está sim. A anestesia já terminou. E você, está bem?
-Não. Acho que não vou conseguir. Estou no meio de um surto psicótico. Minha mão está gelada, suada, vou desistir, ok?
-Paulo, marido de paciente minha não desiste assim tão fácil. Anda! Ela precisa de você. Vamos lá?

Lá estava eu, andando em linha reta, focado apenas no rosto da minha mulher e tentando não derrubar nenhum monitor cardíaco dentro da sala.

Fiquei atrás do pano que impedia que nós dois víssemos a cirurgia. Era tudo ou nada. Respirei fundo o tempo inteiro. Não podia dar trabalho à equipe de seis ou mais profissionais envolvidos naquele momento. Estava suando frio dos pés à cabeça. O anestesista me ofereceu um banquinho. Eu aceitei.

(Continua...).


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Ele tem data e hora para chegar

Lá estávamos nós para mais uma consulta com a obstetra. Na ocasião, como de costume, foram abertos os últimos exames laboratoriais solicitados. Em seguida, a médica pensou, repensou e, após um silêncio sepulcral, veio a notícia:

-Ju, vamos fazer o parto nesta sext...
-SEXTA AGORA? MAS HOJE É TERÇA!
-Paulo, deixa ela falar.
-Desculpa.
-Temos que marcar a cesárea para sexta, ok? Ele nascerá sexta pela manhã. Não podemos mais esperar.

Ter data e hora marcadas para o nascimento foi, no mínimo, estranho. Acredite, foi fácil e rápido como agendar um cineminha. Mas e agora?

Após a notícia, fiquei um pouco atordoado, meio abobalhado, sem foco. Ao mesmo tempo, fui tomado por um sentimento de plena felicidade. Faltava muito pouco. Estávamos muito perto de ver nosso primeiro filho. A gestação estava chegando ao fim.

Na saída do consultório:

-Ju, é sexta agora!
-Eu sei. Tô um pouco confusa.
-Ju?
- Oi.
- A nossa casa é pra lá.

Saímos do consultório feito dois bêbados e pensando de forma atropelada nas últimas pendências. Era  também o momento de avisar aos familiares qual seria o horário da maternidade.

-Oi vô, o Antônio Bento nascerá sexta agora, ok?
-Você tá feliz, Ju?
-Tô vô, mas meio nervosa.
-Não fique. Respire fundo e pense só em paisagens muito bonitas.

Não deixe nada para a última hora. Ao contrário do que muitos pensam, isso diminui e muito a ansiedade dos pais. Após  a 38ª semana de gravidez, seu filho poderá nascer a qualquer hora do dia ou da noite.  É interessante entrar em contato com o RH da sua empresa para solicitar a licença à paternidade e conversar com os seus superiores sobre sua ausência. Não fique para trás. Ah, os pais também tem mala para a maternidade. A minha já está pronta com duas mudas de roupa, chinelos, um pijama, meias e cuecas!

Enquanto isso, vou respirando e pensando nas paisagens mais bonitas que conheço.



Que seja bem-vindo meu filho

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um pai à beira de um ataque de nervos (um desabafo)

É meia noite e meia e nem sinal do sono. Ando bastante ansioso. Para falar a verdade, desde o dia que descobri que ia ser pai, fui tomado por uma ansiedade latente e crescente. Cheguei ao meu limite. Estou a um passo da insônia crônica e a meio passo da impaciência desmedida.

A gestação é mágica, mas assumo que não tem sido fácil. O nono mês já ganhou o título de "O Pior". A impressão é que cada dia tem 48 horas. Para alguém ansioso como eu, ter um filho é uma pegadinha com início, meio e fim. Acabo respirando fundo a cada dia riscado no calendário. Viver assim tem potencializado a minha irritabilidade, admito. Em alguns momentos, sobra até para a gestante.

Amigos e familiares são monotemáticos durante todo o período gestacional, acostume-se. Saiba também que eles não estão preparados para te ver de mau humor. Aliás, boa parte da sociedade não está. Quando te pegarem num dia ruim e perguntarem pela milésima vez "como está o bebezão?", você abrirá um sorrisão amarelo na tentativa de ser legal.  Dá certo, mas isso vai acabar te cansando.

Muita gente ainda pensa que a gravidez deve ser um momento exclusivamente calmo e sereno. No qual os pais vivem 100% felizes e despreocupados. Concordo, fica perfeito nos anúncios da johnson & johnson. Mas como? Com sua mulher estranha, cheia de dores e reclamações? Sua conta bancária vazia? Conversando sobre marca de fralda no jantar? Mais dia menos dia você vai ficar mal humorado.

Não tá claro isso?

Tentem entender que nossas mulheres começam a gerar um ser humano no interior de um órgão. Este bebê cresce de forma lenta (dentro da água), até que um dia (sem avisar), resolve nascer e viver (fora d´água)  sob sua responsabilidade. Agora posso reagir como eu quiser e puder? Posso? Obrigado.

Para piorar o quadro de ansiedade, tem sempre um infeliz contando histórias terríveis sobre má formação, mortes durante o parto e como os primeiros dias após o nascimento são terríveis. Há terroristas que prefiram a frase  "Aproveite agora para dormir muito, viu?".

Estou nervoso, de mau humor, mas vai passar. Falta uma semana. Haja paciência.