quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Um ano - Parte 3 - O barato saiu caro...

Responsável pais que somos, Juliana e eu saímos com antecedência pelo bairro em busca de uma creche que atendesse às nossas expectativas. Foram muitas visitas. Algumas creches foram descartadas já na portaria, outras eram caras demais com uma fila de espera gigante.




Aqui no Rio de Janeiro, as creches são tão disputadas, que é comum pais reservarem vagas (com pagamento adiantado) antes mesmo do bebê nascer. Uma licença maternidade dura em média de 4 a 7 meses (incluindo férias), as creches mais disputadas tem lista de espera de um ano! Portanto, se você está pensando em colocar seu filho numa creche, é melhor correr!

-Ju, vamos sair daqui. Tá me fazendo mal.
-Mas, Paulo... Creche é assim meu amor. Cheia de criança, cheia de monitoras, cheia de gritos, de choros...
-Isso aqui mais parece um presídio infantil, Juliana!
-Menos, Paulo. Ele vai ficar bem.

Uma dica importante é em relação à segurança da creche. O acesso não pode ser fácil. Fiquem atentos também à limpeza da cozinha, do banheiro, das salas e dos objetos e brinquedos em geral. Vale uma consulta a amigos e ao google.

Em todas as creches que vimos, tive uma sensação ruim, não vou negar. Pensei no meu filho confinado, num ambiente tumultuado com tantos gritos, choros e pessoas. Foi difícil administrar.

Passamos por situações desconfortáveis. Ver aquelas crianças tão pequenas sob os cuidados de "estranhos", chorando durante o almoço, implorando por atenção, não foi fácil. Por vários momentos eu quase desisti da ideia da creche, mas pensei no nosso bolso (temos auxílio educação da empresa) e na minha sogra, que até agora ajudou a cuidar do Antônio Bento e já estava cansada.

-Ok, Paulo. Sabe quanto custa uma babá? O olho da cara aqui no Rio! Sem contar que deixaremos nosso filho sob os cuidados de uma pessoa que não conhecemos... Reflita.
-Ok, vamos visitar mais creches. Deve ter uma BBB - boa, bonita e barata.

Ouvimos muitas pessoas dizerem que seus filhos "evoluiram" muito na creche. Eu sempre pensava que na creche, meu filho estaria protegido porque as cuidadoras estariam sendo supervisionadas por coordenadoras e pelas próprias colegas. A contratação de uma babá foi descartada pelo preço e também porque não conhecíamos nenhuma profissioal de confiança.

Após muitas pesquisas, matriculamos o Antônio Bento numa creche "x". Barata, limpa e segura. A adaptação dele não foi fácil. Ele chorava para entrar e chorava para sair. Tenho para mim que ele não chorava para sair porque gostava da creche, mas sim porque não sabia para onde estava indo no colo da cuidadora. Tenho certeza.



Muitos equívocos foram cometidos pela instituição. Os pais não podiam participar da adaptação dentro da sala ou no campo de visão dos filhos. As salinhas ficavam no segundo andar da creche. Os pais não estavam autorizados a subir. Cada dia uma monitora vinha buscar o Antônio Bento, que morria de medo e chorava desperadamente.

Exigimos que fosse do nosso jeito. Nem todas as solicitações foram atendidas. Quando eu pedia para vê-lo pela janela da sala, sempre me pediam um "minutinho" antes de autorizarem minha entrada no segundo andar. Estranho? Sim. Fiquei desconfiado.

Antes de matricular seu filho numa creche, tente entender como funcionará a adaptação e veja a proposta pedagógica da instituição. Esse primeiro contato com a escola deve ser o mais tranquilo possível. 

O Antônio nasceu carinhoso. Ele é extremamente apegado aos seres humanos. Sempre quer um colo, um carinho e atenção exclusiva. Estava claro que fazíamos muito mal a ele deixando-o naquele lugar, mas não tínhamos muita opção.

Na primeira semana:

-Ju, o peguei o Antônio Bento na creche e ele está meio triste.
-Triste?
-É. Meio que deprimido.
-Ai meu deus.
-Deve passar, né?
-Deve.



Mas não passou. O que passou para ele foi uma bactéria louca, que em algumas horas tomou conta de toda a sua garganta. Era a primeira amidalite do Antônio. Febre de 40 graus, dores, falta de apetite. Foi um pesadelo.

-Dra, o que ele tem?
-Ele tá com uma amidalite.
-Nossa!
-Ele tá na creche, Paulo?
-Sim.
-Coitado...
-Por quê?
-Porque ele é muito apegado a vocês. Ficar sob os cuidados de um desconhecido para ele é muito ruim. Talvez mais do que para as outras crianças.
-Sério?
-Sim. A imunidade dele baixou por causa da saudade. Ele está mais vulnerável. Isso pode acontecer.
Mesmo ouvindo isso da pediatra, insistimos na creche porque não tínhamos outra opção. Precisávamos ser fortes, até que:

-Alguém atende meu filho aqui, por favor! Ele vomitou faz uns 25 minutos na recepção. Ninguém tá vendo?
-Senhor, já chamamos a limpeza.
-Se o atendimento pelo médico for tão rápido quanto à limpeza você me avisa para procurarmos outra emergência, ok?

Detesto emergência pediátrica. Sempre aquelas recepcionistas mal humoradas, brinquedos infectados por crianças doentes e pais desesperados. Durante todo o período que o Antônio ficou na creche, vivíamos nos hospitais. Ele ficava mais em observação em casa do que indo para a creche.

-Ju, por que você tá em pé? -Tem uma cadeira ali.
-Paulo, fica quieto! Ali sentou uma menina mais pintada que uma joaninha. O Antônio Bento já teve contaminação suficiente nesses dois meses, você não acha?

No total foram 5. Todas com febre alta, vômitos, falta de sono e apetite. Após uma conversa com a minha sogra, que durante todo este tempo esteve com ele em casa, cuidando das infecções enquanto nós trabalhávamos, decidimos desistir da creche. Finalmente aquele pesadelo tava acabando e Antônio voltou para os cuidados da vovó.

Após algumas pesquisas na internet e com a própria pediatra do Antônio, descobrimos que as creches que recebem crianças doentes - a famosa frase "pode trazê-lo doentinho e deixar que a gente medica ele, é só passar os horários e os medicamentos" - na verdade é um perigo para a saúde pública.

Hoje, é o seu filho que está doente. Amanhã é o amiguinho, que frequentará a creche, contaminando outras crianças. Somos tão egoístas, que quando ouvi a coordenadora dizendo que administrava medicamentos, inclusive para febres (caso solicitado pelos pais) eu achei fantástico. "Ledo engano, Leda Nagle".

No próximo post - nossa primeira viagem juntos e mais sobre o comportamento do Antônio Bento!

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