quarta-feira, 17 de agosto de 2011

No olho do furacão (2)

A recuperação da minha mulher dependeu muito da sua força de vontade. Naquela mesma noite, ela levantou da cama pela primeira vez enfrentando dores colossais. Mais tarde, a sonda e o soro foram retirados. Coragem e determinação foram palavras chave diante daquela situação toda.

Ela não se deixou abater pela estafa. Cumprindo orientações médicas, entre uma mamada e outra, caminhamos juntos até o elevador da maternidade. Como uma verdadeira guerreira, ela fez o que tinha que fazer.

Caminhar pelos corredores da maternidade ajudam no funcionamento do intestino e eliminação dos gases.  Aos poucos, as mães vão ganhando coragem e firmeza ao andar. É preciso dar muito carinho à sua mulher neste momento e entender que o choro é uma válvula de escape para tantas mudanças . Tente não entrar em pânico e não a julgue. Seja forte também.

Após mais uma noite em claro, no dia seguinte, as dores continuaram e o trabalho maçante com a amamentação também. Até que naquela manhã:

-Boa tarde mamãe e papai, eu sou a enfermeira responsável pelo primeiro banho do Antônio Bento! Fiquem atentos ao que vou dizer e fazer. Assim, vocês aprenderão tudinho.

Carregando uma banheira no formato de uma barca, a enfermeira despiu nosso filho segurando-o como se fosse uma batata doce e iniciou o "processo de tortura".

-Mamãe e papai, o Antônio Bento vai chorar e ficar vermelho durante o banho, mas isso é normal...

De forma automática, ela foi dando o banho e narrando uma espécie de passo-a-passo ao som estridente do choro dele. Aquilo não podia ser normal. A "barca dos horrores" estava me tirando do sério. Ao final daquele ritual escabroso, estávamos todos surdos e chocados com a situação surreal que presenciamos. Eu já pensava em ligar para um psicólogo infantil...

Durante o dia, recebemos amigos e familiares. Ganhamos presentes e muito carinho. Ainda abatida pelas noites mal dormidas, Juliana socializou, distraindo um pouco a mente.

Na segunda noite, por ordem médica, o Antônio Bento dormiu no berçário. Preocupada com a recuperação da Juliana, que ainda estava internada e recebendo medicação venosa, a obstetra orientou que ela não se preocupasse em amamentá-lo durante a madrugada.

Mesmo com o receio dele ser alimentado com suplemento e perder a vontade de mamar no peito, entregamos nosso príncipe para as enfermeiras do berçário. Não tínhamos outra opção. Estávamos no nosso limite. Precisávamos descansar. Minha sogra se ofereceu para dormir com a minha mulher naquela noite, me dando folga para dormir em casa. Eu aceitei, claro.

Estratégias como esta podem ajudar e muito. Não negue ajuda neste momento. Qualquer auxílio será bem vindo, seja ele qual for. Descansar faz toda a diferença.

Dormir  foi um santo remédio para lidarmos com o estresse inicial. Após um sono reparador, estávamos mais seguros e "prontos para outra". A percepção da realidade voltou, o nosso bom senso também. Antes, estávamos cegos em fazer o melhor para ele, sem pensar nas consequências físicas e mentais que aquilo poderia gerar em nós. Começamos a priorizar para evitar um desgaste desnecessário.

Querer fazer o melhor para o seu filho e se preocupar com ele é normal. Tente não exagerar. Ninguém é um super homem ou uma super mulher. Faça o que você conseguir. Não tente ultrapassar seus limites. Lembre-se que agora o seu filho precisa de você. Preserve-se.

Após a alta da obstetra e da pediatra, era hora de ir para casa.

Antônio Bento indo para casa

Uma nova fase se iniciava em nossas vidas.

Um comentário:

  1. Olá!! Adorei o blog de vcs...os textos muito legais!!
    estou seguindo,se puder retribuir, me visite!

    bjo
    www.petitninos.com

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