quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Nasce um filho, nasce um pai (2)

Tentei ficar calmo e não me deixar levar por aquele ambiente hospitalar hostil. Minha mulher me pediu para contar uma piada, cantar alguma coisa no intuito de abstrair as desagradáveis reações causadas pela anestesia. "Juliana, esses sintomas vão passar assim que o bebê sair da barriga, ok?", disse o anestesista gente boa.

Não demorou muito e, após um solavanco, sentimos o corpo dela chacoalhar. Um cheiro de queimado causado pelo bisturi elétrico tomou conta da sala. "Ele tem cabelo!", disse a obstetra. Comecei a filmar na tentativa de me distanciar da realidade, enxergando tudo por trás da lente da câmera. Minha mão suava.

-Alguém tem um batom?
-Ju, isso é hora de bat...
-EU TENHO!
-Ju, a pediatra tem!
-Passa em mim gente, quero ser linda nesse momento!

Sem cordenação alguma, minha mulher borrou a boca inteira de batom dando uma leveza  quase poética aquele momento tenso. Em poucos minutos:

"Seja bem-vindo Antônio Bento", disse a obstetra com o nosso filho nas mãos.

A emoção é indescritível. Vê-lo pela primeira vez ficará registrado na minha memória para sempre. Aquele corpo roxinho, sujo e frágil se comunicou com a gente por meio de um choro leve, que logo foi ganhando força e tomando conta do ambiente. 

Meu coração disparou de alegria. Tive um acesso de choro incontrolável. "Paulo, ele parece comigo", disse  minha mulher. Eu concordei. Realmente ele tinha a cara dela com algumas "pitadas" minhas.

Quando vi, estava ao lado da pediatra acompanhando tudo de perto e já admirando meu príncipe e instintivamente vigiando-o. Após desligar a câmera, fui recuperando minha conexão com a realidade. Mais uma vez chorei e chorei.

-Paulo, prende o choro e vamos levar esse meninão para o bercário.
-Ok.

Acatei à ordem da pediatra, me despedi da minha mulher e levei nosso filho para o berçário, onde ele passaria por exames e descansaria na incubadora por duas horas. Assim que cheguei ao bercário, todos os familiares já aguardavam a nossa chegada com a cara no vidro.

A cena emocionou até as enfermeiras do berçário. Vovôs, vovós, tio e bisos do Antônio Bento se abraçavam e choravam ao ver o mais novo integrante da família. 

Era hora de comemorar.

Eu, Ju, Antônio Bento e o batom vermelho da pediatra

4 comentários:

  1. Felicidades para vocês!!!! ♥♥♥

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  2. achei chique este batom. ju, vc mandou mto bem! as mulheres sempre saem acabadas nesta primeira foto. vc saiu linda e saudável! arrasou!!

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  3. Fiquei emocionada com esse relato. Logo que vi essa foto lá no face, reparei a boca vermelha. kkkkkkk
    Não perdeu a pose nem na hora do parto. kkkkkkkk

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  4. Nooossa! Parabéns! Parabés pela família liiiinda e pelo relacionamento longo que parece ter sido tão bem construído. Tenho meus aninhos de namoro também e já me imaginei na mesma situação que vocês. Pena que meu amor não tem o dom da palavra, como você tem. Seu blog é uma delícia de ler. Já ri, já chorei e fiquei encantada com o tamanho do seu amor e dedicação. Que Deus abençoe sempre vocês, família linda! E que o Antonio Bento seja só motivo de alegria e orgulho pra vocês e que traga muita luz para o mundo!

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